“Ela está irreconhecível, queimou tudo, minha irmã carbonizou”, disse a dona de casa Letícia Souza Santos, 35 anos, em desespero pela situação de Fabrícia de Souza Santos, 29 anos, internada em estado grave na Santa Casa, com 65% do corpo queimado. Letícia registrou boletim de ocorrência pedindo investigação, depois que vizinhos apresentaram a versão de que teria sido tentativa de suicídio.
O incêndio aconteceu na noite de sexta-feira (20), por volta das 21h15. Letícia conta que a mãe, Celina, foi avisada do fogo no imóvel que fica a poucas quadras de onde ela mora, no Jardim Aero Rancho.
Letícia diz que a mãe e uma tia foram correndo ao local e presenciaram Fabrícia sendo socorrida por equipe do Corpo de Bombeiros. Em seguida, as duas foram abordadas por casal de vizinhos, que relatou a versão do ocorrido.
“Eles falaram para minha mãe que passaram a tarde bebendo com ela, até que a Fabrícia pediu cigarro para fumar e se trancou no quarto e botou fogo”, contou. A mãe perguntou se o casal tentou ajudá-la, arrombando a porta. “O homem falou que estava com a mão machucada e não ia conseguir”.
Dúvidas - Letícia foi ao hospital no sábado (21), após ter sido acionada pela assistência social, já que a irmã tinha sido inicialmente internada sem identificação. A dona de casa diz que recebeu informação da médica plantonista da gravidade do caso e que havia uma lesão no crânio.
Além disso, a informação recebida dos plantonistas, segundo Letícia, é que Fabrícia foi encontrada de barriga para cima, embaixo de colchão e de uma TV de tubo, de 39 polegadas. “Não tem como ser suicídio, alguém fez isso com ela, essa barbaridade”, lamentou a dona de casa.
Ainda no sábado, a dona de casa foi ver de perto a situação no imóvel e encontrou vários objetos queimados em uma caçamba de lixo. Na vila, há uma casa de frente e outras seis habitações, com um cômodo e um banheiro. Ela diz que irmã morava lá com o companheiro, com quem tem três filhos, de 13, 6 e 2 anos. As crianças vivem com a vó materna.
As informações coletadas por Letícia foram relatadas à Polícia Civil, conforme registro feito no domingo (22), na Depac/Cepol (Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário). A dona de casa quer investigação por tentativa de homicídio. Também questiona o fato da equipe do Corpo de Bombeiros não ter acionado a PM (Polícia Militar) por se tratar de incêndio que poderia ser criminoso.
A delegada Thainá Andrezza de Souza Borges, que registrou a ocorrência na Depac, diz que o caso deve ser encaminhado à DHPP (Delegacia Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa), mas que a perícia foi acionada logo após o relato para recolher evidências no local. O laudo está sendo elaborado. A delegada confirmou que a polícia não foi acionada logo após o ocorrido, o que deveria ser o procedimento de praxe.
Enquanto isso, a família de Fabrícia torce pela sua recuperação, mas sabe que o quadro é grave.
O boletim da Santa Casa fornecido à família é que a jovem está em estado gravíssimo, com queimaduras de 2ª, 3ª e 4ª graus na cabeça, tórax, abdômen, mãos e pés. Está sedada e sob ventilação mecânica.
“Minha mãe está desolada, eu estou com medo de ir no hospital, me dá aflição no peito”, disse Letícia. O cunhado, de acordo com ela, “está arrasado” e acompanha de perto o quadro clínico da mulher. "Minha irmã é mulher alegre, independente, o que fizeram com ela foi muita crueldade", afirmou.
A reportagem foi até o local do incêndio. Ainda é possível ver a TV queimada, jogada na caçamba, mas o colchão não está mais lá. O proprietário do imóvel, que não quis se identificar, diz que apenas o companheiro de Fabrícia morava no local há cerca de 30 dias, um cubículo que havia sido construído para ser depósito, mas acabou sendo alugado para moradia. O banheiro desse cômodo fica do lado de fora. Ela vinha regularmente, mas estaria vivendo no local.
Outro vizinho, que também não quis repassar o nome, contou à reportagem que chegou no momento em que o cubículo pegava fogo e acionou os bombeiros.
A reportagem encaminhou pedido de informações ao Corpo de Bombeiros sobre o fato de a PM não ter sido acionada para averiguar o caso, o que acarretou na demora no trabalho de perícia. O espaço segue aberto para atualização do caso.